sábado, 2 de abril de 2011

Ariano Suassuna homenageado na II Flibo


Boqueirão é um município encravado na região paraibana conhecida como Cariris Velhos. Mas em meio a todas as adversidades típicas da região, desde o ano passado, a cidade vem dando um exemplo de que a poesia e a literatura podem brotar em qualquer terreno, até mesmo nos mais áridos.

Durante quatro dias – 24 a 27 de março – a cidade foi “tomada” pela II edição da Feira Literária de Boqueirão – FLIBO. De quinta-feira até domingo, quem teve oportunidade de visitar Boqueirão conheceu um pouco mais do universo literário dos principais autores do país, especialmente, do Nordeste – cerca de 50 escritores da Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo, Distrito Federal, Alagoas, Rio de Janeiro e Pernambuco. Também pode presenciar o “nascimento” de novos poetas, como o pequeno Alex, que leu o seu poema “Amor é fantasia” para uma plateia que lotou as dependências da casa de shows Hitz para assistir a “aula espetáculo” do escritor paraibano Ariano Suassuna, o grande homenageado deste ano da II FLIBO, que teve como tema ´Diversidade e Identidade Cultural: Preservando os saberes e fazeres de um povo´.

A palestra de Ariano Suassuna foi o ponto alto do evento e marcou o seu encerramento, no início da noite deste domingo. Uma plateia composta por crianças, jovens, adultos e idosos ouviu atentamente as histórias contadas pelo escritor e sua defesa em prol da cultura brasileira. O governador Ricardo Coutinho fez questão de ser um desses ouvintes, argumentando que não poderia deixar de estar presente ao evento devido à enorme e verdadeira admiração que tem pelo escritor Ariano Suassuna, a quem apelidou de o Dom Quixote do Cariri, “uma pessoa que vê muito adiante e sabe ler o sentimento do nosso povo como poucos criadores souberam ao longo da nossa história”.

Ariano Suassuna iniciou sua “aula espetáculo” reafirmando o seu amor pela sua esposa Zélia de Andrade Lima, com quem está casado desde 1957. Ela estava na plateia e sorriu confirmando a revelação do marido: “Eu a conheci em frente à Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Recife; foi ela quem mandou Zélia para mim. E quando vi seus lindos olhos azuis, tudo se iluminou e o amor logo surgiu e perdura até hoje e vai continuar perdurando”.


O escritor paraibano também fez uma declaração de amor à cultura e à literatura, de uma forma especial: “Não existe diferença entre a literatura e a vida”, afirmou Ariano, observando que todos os seus personagens, a exemplo de Chicó e João Grilo, da obra “Auto da Compadecida”, existiram na vida real. 

Por isso, disse que, apesar de muitos pensarem o contrário, ele não tem imaginação. “Eu não tenho imaginação. Eu apenas copio o que vejo. No Cariri, Chicó existiu e era um mentiroso extraordinário”, afirmou o escritor, adiantando que adora mentirosos, mas aquele que mente por amor à arte, como é o caso dos escritores. E definiu: “O escritor nada mais é do que uma pessoa que não se contenta com o universo do dia a dia e inventa outro”.

Dentre as virtudes teológicas – fé, esperança e caridade –, Ariano Suassuna comentou que possui a esperança. “Sou um homem de esperança. Tenho 83 anos e sou animoso porque tenho esperança”, enfatizou para depois afirmar que não pensa na morte. Ele disse, inclusive, que não vai morrer, porque tem a certeza de que vai enganar a “caetana” na hora que ela aparecer. Para o escritor, quem deve morrer são aqueles que são inimigos da cultura brasileira. “Eles vão morrer e eu vou falar mal deles todos”, afirmou, abrindo um largo sorriso.

Suassuna destacou a importância da realização da Feira de Literatura de Boqueirão como um sinal de que a cultura brasileira existe, que tem cara própria, mesmo que alguns a considerem como um episódio da cultura ocidental. Na ocasião, ele mostrou um cartaz de evento realizado na cidade de São Paulo que fazia alusão aos cinco séculos da cultura brasileira. Ele discordou da afirmação dizendo que a cultura brasileira não existe somente após a descoberta do Brasil pelos portugueses, pois antes existiam aqui os índios que possuía sua própria cultura e religião.

- Nós somos um grande país e um grande povo – declarou Ariano, ressaltando que enquanto existir nomes como Machado de Assis, Euclides da Cunha, Augusto dos Anjos e tantos outros, a cultura brasileira também existirá.


A FLIBO – A II edição da Feira Literária de Boqueirão começou no dia 24 de março e se encerrou neste domingo (27) com uma programação em homenagem ao escritor Ariano Suassuna, tratando o tema ´Diversidade e Identidade Cultural: Preservando os saberes e fazeres de um povo´.

Durante os quatro dias foram realizadas palestras, mini-cursos, lançamentos literários e conversa com escritores. Ao todo foram 60 oficinas que trabalharam com estudantes da rede pública a obra de Ariano Suassuna. Foram realizados ainda eventos como "Poesia ao pé do ouvido" e a I Marcha pela Literatura, que percorreu as principais ruas da cidade acompanhada das bandas marciais e Filarmônica.

A FLIBO foi uma realização da Prefeitura Municipal de Boqueirão e da Associação Boqueirãoense de Escritores (ABES), com apoio do Governo do Estado, através da Fundação Espaço Cultural, do Sebrae e ainda da Associação Brasileira de Estudos Comparativos (ABRAEC) e Funjope.


Texto - Cleane Costa
Fotos: Francisco França
Jornal A União

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